História do Território do Município de Nova Hartz
Autor: Jean Jeison Führ
O município de Nova Hartz se emancipou territorialmente dos municípios de Sapiranga e Parobé, através da Lei Estadual 8.429, de 02 de dezembro de 1987. Entretanto, a história do território, ou seja, das terras que compreendem os atuais limites territoriais do município de Nova Hartz, começa muito antes de 1987, ou dos processos de emancipação da localidade conhecida inicialmente como “Picada Hartz”. A história do atual território do município de Nova Hartz, começa inclusive antes da vinda de imigrantes germânicos (alemães / teutônicos) que vieram a ocupar a antiga Colônia Germânica de São Leopoldo, a partir do ano de 1824. O território geográfico do atual município de Nova Hartz fazia parte do que primordialmente era conhecido como “passo” do Rio dos Sinos, região esta que servia de passagem primeiramente para indígenas, e em seguida para portugueses e espanhóis que disputavam tais territórios para suas Coroas reais lusas e castelhanas. Foram encontrados na atual cidade de Nova Hartz, vestígios cerâmicos indígenas junto às incursões arqueológicas realizadas no ano de 2005, tanto da Tradição Umbu, quanto da Tradição Tupi-Guarani, que remontam a presença humana na região, em mais de 12 mil anos atrás. Os povos indígenas favoreceram direta ou indiretamente a futura ocupação luso-brasileira que foi preparada, facilitada, apoiada e condicionada por essa domesticação territorial pioneira realizada por kaingangues e por guaranis que transitavam por estas regiões. A confluência das bacias hidrográficas do que hoje é Região Metropolitana de Porto Alegre (Rio dos Sinos, Rio Caí, Rio Gravataí e do Lago Guaíba) logo despertou o interesse dos ocupantes luso-brasileiros recém-chegados à estremadura do território português. Apresentamos abaixo uma síntese dos acontecimentos humanos que compõem a história do atual território do município de Nova Hartz.
De 12 mil anos atrás até início da colonização europeia – A região do “passo” do Rio dos Sinos, do qual o município de Nova Hartz faz parte (Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos), fora utilizada por tribos indígenas de caçadores e coletores das tradições Umbu e Tupi-Guarani. Abaixo seguem figuras de artefatos encontrados em incursões arqueológicas junto ao Município de Nova Hartz. Nas figuras abaixo, temos seixos de pedras lascadas / lapidadas e de artefatos cerâmicos produzidos e utilizados pelos primeiros habitantes indígenas do território municipal de Nova Hartz / RS.
Em 1737 – Fundação da fortificação conhecida como Forte / Presídio de Jesus Maria José localizado na atual cidade de Rio Grande, pelo engenheiro militar e brigadeiro, José da Silva Pais, constituindo o primeiro núcleo de povoamento português (luso) da Colônia do Rio Grande de São Pedro (Colônia de São Pedro), fundada oficialmente em maio de 1737, consoante as ordens recebidas do governador da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade (1733-1763). A escolha de seu local, bem como a sua colonização através do estabelecimento de estâncias de gado, permitia apoiar as comunicações por terra entre as cidades de Laguna (no atual estado de Santa Catarina) e a Colônia do Sacramento (cidade do atual país Uruguai), garantindo a posse portuguesa frente aos interesses espanhóis. Tal fortificação possibilita que famílias da cidade de Laguna venham a ocupar terras na então Colônia do Rio Grande de São Pedro (atual estado do Rio Grande do Sul).
De 1740 até 1776 – O tropeiro Antônio de Araújo Villela recebe e ocupa terras na Colônia do Rio Grande de São Pedro, às quais recebem o nome de Fazenda Mascarenhas, compreendendo grande parte do território que era até então conhecido como sendo o “passo” do Rio dos Sinos. Era uma região que se estendia desde os atuais municípios de Viamão, Montenegro e quase toda a região do Vale do Rio dos Sinos (cidade de Nova Hartz e demais cidade banhadas pelo Rio dos Sinos).
De 1777 até 1799 – Com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso em 1777, que delimitou a ocupação portuguesa (lusitana) e espanhola (castelhana) do futuro estado do Rio Grande do Sul (figura 2), se tornou mais propícia a ocupação de terras nesta região por parte de latifundiários de ambas as nacionalidades, já que os limites territoriais estariam pacificados pelo tratado. Decorrente de tal situação, parte das terras da Fazenda Mascarenhas (que compreendia parte do atual território do município de Nova Hartz) são concedidas ao Sr. Ignocencio Alvez Predozo, ao qual recebem o nome de Fazenda Padre Eterno, e que naquele momento pertenciam a então paróquia de Triunfo. Segundo historiadores, o referido “Padre Eterno”, que deu nome à referida fazenda, era um curandeiro capelão negro muito velho (‘steinalter Mann’), que rezava o terço (‘Rozenkranz’), cantava, batizava e fazia enterros pela então região de ocupação lusa. Segundo estudos, os limites da então Fazenda Padre Eterno eram a leste, a futura colônia Mundo Novo (atuais cidades de Parobé, Taquara, Igrejinha e Três Coroas); a oeste, pela colônia de Campo Bom e a Picada do Baumschneis (atual cidade de Dois Irmãos); ao sul, iniciava nas margens do Rio dos Sinos e estendia-se pela várzea do mesmo rio subindo em direção à Serra Geral, avançando na selva até além do rio Cadeia (Santa Maria do Herval). Com base em posteriores limites territoriais municipais, pode-se presumir que o Arroio Grande / Arroio Fuzil, que recorta o centro do atual município de Nova Hartz, foi considerado primeiramente um limite natural entre as fazendas de ocupação lusitana (portuguesa) como a Fazenda Padre Eterno e a Fazenda Mundo Novo, e depois um limite natural entre as vilas (futuros municípios) em formação.
Em 1794 – Inicia-se a ocupação portuguesa (lusitana) da localidade de Pinhal (futura paróquia de Santa Cristina do Pinhal – que chegou a se tornar vila (município), mas depois foi rebaixado a distrito do município de Taquara, e depois igualmente distrito do atual município de Parobé, quando da emancipação deste) abrangendo eventualmente trânsito de comerciantes na margem esquerda e direita do Arroio Grande (afluente hídrico que recorta a região central do atual município de Nova Hartz). A localidade de Pinhal foi uma importante via de escoamento da produção agrícola da região para a capital gaúcha até a vinda da ferrovia.
De 1799 até 1815 – A Fazenda Padre Eterno (que compreendia o território do atual município de Nova Hartz) é fracionada em datas (lotes) de cultivo de terra que não prosperaram sob o comando de famílias portuguesas (lusas) que em muitos casos nem chegaram a ocupar efetivamente seus lotes.
Em 1809 – É provisionado a criação dos quatro primeiros municípios do atual Estado do Rio Grande do Sul: Rio Grande, Rio Pardo, Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha. Mantendo em certa medida o mesmo limite que existia entre a antiga Fazenda Padre Eterno e a Fazenda / Colônia do Mundo Novo, o afluente hidrográfico do Arroio Fuzil / Arroio Grande (que recorta a região central do município de Nova Hartz) serve como limite geográfico entre os recém municípios criados de Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha.
Em 1813 – Do lado direito (sentido de quem sobe em direção a nascente) do Arroio Grande (arroio que divide o atual município de Nova Hartz) o então governador Dom Diogo de Souza da Província de Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Sul) concede terras para Antonio Borges de Almeida Leams (Liaens ou Leães). Nesta concessão de terras, a Família Leams (Liaens / Leães) estabelece a Fazenda Mundo Novo (compreendendo terras dos atuais municípios de Nova Hartz, Parobé e Taquara) enquanto empreendimento agropecuário que possuía engenho, moinho artesanal, alambique e atafona; e empregava mão-de-obra escrava, tendo cinco escravos (quatro homens entre 28 e 40 anos; uma mulher com 38 anos) que supria a capital da província com a produção da mesma.
De 1822 até 1824 - Com a independência do Brasil, em 1822, muitos projetos da antiga Coroa Portuguesa são repensados pelo então novo Império Brasileiro. Em 1824, a situação política e econômica do país faria com que a Real / Imperial Feitoria do Linho Cânhamo – RFLC – com seus mais de 300 escravos – fosse desativada, o que invariavelmente deve ter minguado e dificultado os empreendimentos latifundiários e escravocratas da região como os da Fazenda Padre Eterno / Fazenda Leão (que compreendiam o território do atual município de Nova Hartz, cada uma em um dos lados do Arroio Grande que recorta a atual cidade).
A partir de 1824 em diante – Conforme já indicado, a partir da Independência do Brasil, ocorrida em 1822, vários projetos da antiga Coroa Portuguesa foram deixados de lado (como a Real / Imperial Feitoria do Linho Cânhamo), para dar lugar a projetos que se coadunassem com o Império Brasileiro recém constituído. Um dos projetos desenvolvidos fora o de promover a imigração de contingentes europeus (germânicos, teutônicos, poloneses e outros) que pudessem promover a colonização de territórios brasileiros ainda pouco explorados, como os do sul do país. Cabe referir que nesse período, a Alemanha ainda não era um país unificado, algo que só iria ocorrer em 1871, assim sendo a identificação de tais imigrantes como sendo alemães, é uma construção discursiva posterior a vinda das primeiras grandes levas de imigrantes alemães para cá. Então a partir de 1824 a região da antiga Real / Imperial Feitoria do Linho Cânhamo - RFLC começa a receber imigrantes germânicos provenientes das várias regiões que hoje constituem a Alemanha. Muitos dos imigrantes germânicos advindos se instalam primeiramente na sede da antiga RLFC, sendo posteriormente encaminhados para picadas / lotes distribuídos por sobre os territórios da própria RLFC. São realizados trabalhos de agrimensura (dimensionamento dos lotes), com abertura de “picadas” (estradas para deslocamento) para que os imigrantes recém chegados continuem tendo acesso até a sede do empreendimento de colonização (futuro município de São Leopoldo), de modo que possam escoar a sua futura produção agrícola, bem como ter acesso a insumos que eventualmente não consigam fabricar ou acessar (ferramentas, condimentos, entre outros).
Em 1842 - A Fazenda do Padre Eterno (margem esquerda de quem sobre em direção a nascente do Arroio Grande / Fuzil que corta o atual município de Nova Hartz) é colocada à venda em leilão público para pagamento de dívidas da família proprietária das referidas terras. Comerciante influente da “Costa da Serra” (região então já conhecida como HamburguerBerg, atual bairro Hamburgo Velho na cidade de Novo Hamburgo), o Sr. João Pedro Schmidt, e o seu sócio Johann Krämer (João Kraemer) arrematam a compra das referidas terras em nome de sua sociedade (Schmidt & Kraemer) dividindo o latifúndio em lotes formados por “picadas”: Picada das 4 Colônias (parte do atual município de Campo Bom), Picada do Ferrabraz (parte do atual município de Sapiranga), Picada do Padre Eterno do Campo (parte do atual município de Sapiranga), Picada da Serra do Ferrabraz (parte do atual município de Sapiranga) e Picada da Bica (confluência territorial dos atuais municípios de Araricá e Nova Hartz). O Sr. João Pedro Schmitt além de comerciante e loteador de terras, foi também juiz de paz do 4º Distrito (região de Hamburger Berg, Bom Jardim, Estância Velha e Campo Bom) e igualmente vereador da colônia germânica de São Leopoldo entre o final da década de 1850 e a metade da década de 1860, sendo responsável por dirigir e administrar a Vila (e posterior Município de São Leopoldo, a partir de 1864).
Entre 1845 e 1847 – A Fazenda do Mundo Novo, na localidade de Pinhal (que compreendia parte dos atuais territórios dos municípios de Taquara, Parobé, Igrejinha, Três Coroas, Gramado, Canela e parte de Nova Hartz – margem direita de quem sobre em direção a nascente do Arroio Grande / Fuzil, que corta o atual município de Nova Hartz) é adquirida por Tristão Monteiro e seu sócio (cônsul alemão) Jorge Eggers em 1845, do espólio de Antonio Borges de Almeida Liaens (Leães). A localidade adquirida é grande produtora de insumos agrícolas para a capital gaúcha e escoa a sua produção através de um porto local e das vias fluviais do Rio dos Sinos e seus afluentes. Devido a sua pujança econômica e territorial, logo atraí o interesse político das localidades vizinhas em deter tal localidade como um de seus territórios distritais.
Em 1846 – A colônia de imigrantes germânicos constituída no entorno do antigo território Real / Imperial Feitoria do Linho Cânhamo, denominada de São Leopoldo, é emancipada enquanto município da capital gaúcha e município de Porto Alegre devido ao seu crescimento econômico. Os limites de tal município não são muito precisos e se baseiam em vários aspectos aos limites da antiga Real / Imperial Feitoria do Linho Cânhamo (empreendimento escravocrata da Coroa Portuguesa que objetivava produzir cordoalha náutica. O poderio econômico que algumas famílias alemãs obtiveram, possibilitou com que as mesmas se tornassem “imobiliárias e loteadoras de terras” o que invariavelmente agregou territórios vizinhos ao crescente e recém formado município de São Leopoldo, como foi o caso das sociedades Schmidt & Kraemer (loteadores das futuras cidades de Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapiranga e Nova Hartz na margem esquerda do Arroio Grande) e Monteiro & Eggers (loteadores das futuras cidades de Parobé, Taquara e Nova Hartz na margem direita do Arroio Grande).
Entre 1846 e 1850 - Três dos quatro filhos do Sr. Wilhelm (Guilherme) Hartz e sua esposa Judita (Juditte) Bore (Boherer) – residentes de HamburguerBerg (atual bairro de Hamburgo Velho em Novo Hamburgo) - com suas esposas (Jakob/Jacó Hartz com sua esposa Carolina, Johann Philipp / João Felipe Hartz com sua esposa Catarina e Wilhelm / Guilherme Hartz com sua esposa Anna Philippine Eggers) compram terras na margem esquerda do Arroio Grande (então pertencentes a localidade de Santa Cristina do Pinhal). Outra parte da fazenda é comprada por José Antônio Fernandes, e sua esposa Leonor Francisca Fernandes, que eram terras vizinhas das terras do Sr. Vicente José dos Santos (provável origem do nome Campo Vicente – atual bairro de Nova Hartz situado ao lado do Bairro Campo Pinheiro – campo onde existiam muitos pinheiros – outro bairro de Nova Hartz). Em razão dos três casais de sobrenome Hartz, a picada situada na margem esquerda (de quem sobe em direção à nascente) do Arroio Grande, ficou conhecida como “Picada Hartz”.
Em 1847 – A antiga Fazenda do Mundo Novo (que compreendia parte da margem direita de quem sobre em direção a nascente do Arroio Grande, que corta o atual município de Nova Hartz), na localidade de Pinhal (denominação advinda da vasta quantidade de araucárias encontradas na região), passa a condição de capela sob a denominação de Santa Cristina do Pinhal, e se torna o 2° distrito do recém emancipado município de São Leopoldo. Tristão Monteiro, agrimensor e loteador da região, doa recursos para construção da capela que vem a ser inaugurada em 1853.
Em 1855 – Franz Peter Haag e família compram os lotes quatro, cinco, seis, sete e oito da Picada da Bica (atual bairro “rural” de Arroio da Bica) na margem direita de quem sobre em direção à nascente do Arroio Grande (vindo com isso a expandir indiretamente os limites do recém emancipado município de São Leopoldo) da então imobiliária Schmidt e Kraemer, dos sócios hamburguenses João Pedro Schmitt e Johann Kraemer.
Em 1857 - A antiga Fazenda do Mundo Novo, localidade de Pinhal, passa a condição de freguesia sob a denominação de Santa Cristina do Pinhal e se torna pertencente a capital gaúcha e município de Porto Alegre. Desse modo, os residentes na margem direita de quem sobe em direção à nascente do Arroio Grande (afluente hídrico que recorta o centro do atual município de Nova Hartz) ficam assim submetidos e pertencentes a capital Porto Alegre, e os residentes da margem esquerda de quem sobe em direção à nascente do Arroio Grande, ficam submetidos e pertencentes ao município de Novo Hamburgo.
Em 1864 – A localidade de Santa Cristina do Pinhal passa a ser o 6° distrito do município de São Leopoldo (Colônia Germânica de São Leopoldo). Desse modo, tanto os residentes da margem esquerda (Picada Hartz / Picada Velha), quanto direita (Arroio da Bica) do Arroio Grande (afluente hídrico que recorta a região central do município de Nova Hartz) passam a prestar contas de suas atividades ao município de São Leopoldo.
Em 1868 – O falecimento do loteador hamburguense João Pedro Schmitt, impede a efetiva ocupação das terras a leste do Morro Ferrabraz, ou seja, da Picada da Bica (território dos atuais municípios de Araricá e Nova Hartz). A referida área é comprada então pelo Barão do Jacuy, conhecido como Moringue, que já cobiçava tais terras desde a Revolução Farroupilha (o barão chegou a emboscar e matar dois filhos do tenente Leão durante a “revolução civil gaúcha”). O Barão de Jacuy comprou tais terras (Araricá e Nova Hartz sem a área conhecida atualmente como Arroio da Bica) com as indenizações que recebeu por seus serviços militares prestados. O barão chegou a elaborar um projeto de urbanização para tais terras, conhecido como “Nova Palmeira”, ou “Nova Palmira”, que igualmente não vingou.
Em 1880 – A localidade de Santa Cristina do Pinhal passa a ser município / vila formando e constituindo a Comarca do Rio dos Sinos, juntamente com a localidade de São Francisco de Paula. Desse modo, os residentes da margem esquerda (Picada Hartz / Picada Velha) passam a prestar contas de suas atividades diretamente ao referido município / vila / comarca. Ainda no mesmo ano, a localidade de São Francisco de Paula se desvincula dessa subordinação.
Em 1886 – O município de Taquara (do Mundo Novo) se emancipa frente ao hoje extinto município de Santa Cristina do Pinhal. Os residentes da Picada Velha / Picada Hartz começam a prestar contas de suas obrigações legais junto a tal município. Os residentes do Arroio da Bica e entorno, começam a prestar contas de suas obrigações legais ao município de São Leopoldo (Colônia Germânica de São Leopoldo).
Em 1892 – Atritos políticos entre membros gaúchos do partido liberal e do partido conservador, motivam a incorporação e a subordinação dos municípios de Santa Cristina do Pinhal e de São Francisco de Paula ao município de Taquara (do Mundo Novo). Tal situação não muda em nada a vinculação dos residentes da Picada Velha de prestarem contas de suas obrigações legais para com o município de Taquara (do Mundo Novo) que saiu fortalecido de tais atritos políticos. São Francisco de Paula retoma sua autonomia política em 1902. Santa Cristina do Pinhal por outro lado nunca mais foi elevado a condição de município, vindo a se tornar distrito do município de Parobé quando este se emancipou de Taquara em 1982.
Em 1893 – Primeiros registros escritos da existência de atafonas e moinhos na localidade de Arroio da Bica, cuja propriedade dos mesmos é atribuída a família Henkel. Na sequência outras famílias também vieram a se dedicar a tal atividade produtiva, que viria a ser escoada através da ferrovia que seria implantada próximo da localidade.
Em 1903 - A vinda da ferrovia entre Porto Alegre até São Leopoldo em 1874, e até Taquara em 1903, passando pelas antigas terras do Sr. Vicente – localidade de Campo Vicente – possibilita com que a produção de atafonas e demais estabelecimentos rurais situados na localidade de Arroio da Bica possam ser escoados tanto para Taquara e região, como para as regiões de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Porto Alegre.
Em 1920 – O Sr. Vicente José de Melo, juntamente com sua esposa, a Sra. Antonia Cardoso da Silva, compra 19 hectares de terra no Bairro Imigrante em Nova Hartz, localidade esta que futuramente viria a ser loteada e denominada como “Loteamento Vicente Melo”, em homenagem a seu primeiro proprietário.
Em 1924 – Registra-se provisão (financiamento) para criação da Capela Católica de Campo Vicente junto a Paróquia do Senhor Bom Jesus de Taquara (já que na época a localidade do atual bairro de Campo Vicente, pertencia a Taquara, sendo posteriormente vinculado ao emancipado município de Parobé).
Em 1926 – Construção da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB no atual Bairro Campo Vicente em Nova Hartz.
Em 1929 – Construção da Escola da Comunidade Evangélica de “Hartz Pikade”, ao lado da então Igreja Evangélica derrubada em 1973, no atual Bairro das Rosas em Nova Hartz.
Em 1930 – O setor calçadista começa a se desenvolver na localidade de “Picada Hartz”.
Em 1943 – Fundação do então “Hospital de Nova Hartz”. Após algumas décadas o mesmo iria se tornar um asilo, sendo por fim desativado, para dar espaço a outros empreendimentos.
Em 1950 – Instalação um gerador elétrico no “centro” da Picada Hartz, que se desliga por volta das 22 horas da noite. Instala-se onde hoje funciona a Escola Municipal de Educação Infantil Dois de Dezembro, no atual bairro de Campo Vicente, a “escola isolada” ou “reunida” que era então parte integrante da Escola Estadual 28 de Fevereiro, com sede no município originário de Sapiranga.
Em 1954 – Estabelecimento dos Calçados Haag & Schonardie em Picada Hartz. A localidade de Picada Hartz passa a ser considerado o 3º Distrito da cidade originária de Sapiranga.
Em 1956 – Estabelecimento dos Calçados Mosqueteiro em Picada Hartz.
Em 1958 – Estabelecimento dos Calçados Harda em Picada Hartz. Estabelecimento dos Calçados Becker & Pilguer, depois Calçados Decorate em 1959, adquirida pelos Calçados Marte Ltda. em 1990. Instalação da então Escola Rural Isolada de Arroio da Bica, atual Escola Municipal de Ensino Fundamental José Schmidt.
Em 1959 – Estabelecimento dos Calçados Decorate em Picada Hartz.
Em 1962 - Instalação dos Calçados Ramarim, na região central da “Picada Hartz”.
Em 1964 – O governo militar instaurado opta por favorecer o sistema de transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário. Com essa decisão governamental, o trecho ferroviário existente entre Taquara e Novo Hamburgo, que então perpassava a estação de Campo Vicente (hoje bairro de Nova Hartz) é desativada em 16 de novembro de 1964. A desativação da linha ferroviária foi prejudicial em termos econômicos e logísticos para as cidades da região que demoraram para se recuperar de tal decisão governamental.
Em 1967 – Estabelecimento dos Calçados Racket que permaneceu ativa na indústria calçadista da cidade até o ano de 2008.
Em 1975 – Estabelecimento dos Calçados Kitoki em Picada Hartz.
Em 1977 – Estabelecimento dos Calçados Via Marte em Picada Hartz.
Em 1978 – Iniciam-se cultos e trabalhos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, no atual Bairro Campo Vicente em Nova Hartz.
Em 1984 – Início das movimentações políticas e partidárias em prol da emancipação de “Picada Hartz” frente ao município de Sapiranga. Dentre as primeiras lideranças que principiaram tais movimentações podemos citar os nomes do: Sr. Delmar Egon Mergener, Sr. Reinaldo Adelino Baum, Sr. Ernani José Schmidt, Sr. Ireno Ireton Weber, Sr. Amador José Wallauer, Sr. Flavio Emilio Jost, Sr. Mario Valdir Augustin, Sr. Leni Adir Krupp, Sr. Ricardo Aurélio Dietrich, Sr. Dirceu Zimmermann, Sr. Marcos Kirsch, Sr. Hugo Gross, Sr. Celso Veroni Jaeger, Sr. Egon Claudio Schmidt, Sr. Remi Edu Schweitzer e a Sra. Edith Hoffmann Jost; que estabeleceram primeiramente interlocuções com o então prefeito municipal de Sapiranga, o Sr. Waldomiro dos Santos, e também com o então presidente da Assembleia Legislativa, o Sr. Algir Lorenzon. Parte das referidas lideranças citadas promoveram as articulações necessárias para que fosse organizado um plebiscito no dia 20 de setembro de 1987, com a composição prévia de um eleitorado mínimo de 1800 cidadãos residentes em “Picada Hartz” e Vila Grings (compreendendo parte territorial do que hoje é considerado território municipal da cidade de “Araricá”). Foram registrados posteriormente um total de 3380 eleitores, sendo que destes, 2767 eleitores participaram efetivamente do pleito, tendo 97% deles endossado a aprovação de criação do município de Nova Hartz. O município de Nova Hartz foi então criado oficialmente pela Lei Estadual 8.429, de 02 de dezembro de 1987 (data de aniversário do município), pelo então governador do estado, o Sr. Pedro Simon.
Em 1989 – Estabelecimento das Borrachas CV Ltda. no Bairro de Campo Vicente, nas instalações fabris que eram até então da filial dos Calçados Bibi, cuja matriz era no município de Parobé.
Em 1991 – Reinstalação dos Calçados Ramarim, no Bairro das Rosas em Nova Hartz.
Em 1992 – Ocorre uma enchente de grandes proporções junto ao leito do Arroio Grande que corta a região central da cidade de Nova Hartz. Registram-se vários deslizamentos de terra na região rural da cidade, principalmente nas localidades de Canudos, Solitária Alta e Solitária Baixa.
Em 1994 – A antiga Escola 28 de Fevereiro é renomeada como Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Almerinda Paz de Oliveira, no atual bairro de Campo Vicente em Nova Hartz, procedendo homenagem a uma professora pioneira da então localidade de Picada Hartz.
Em 1996 – Início das mobilizações para constituição da Cooperativa Habitacional Nascente Do Vale Ltda. – COOPHEVA, cuja primeira reunião de interessados ocorreu em 1997, e a fundação oficial da mesma ocorreu no ano de 2000.
Em 1997 – Começa a ser implementado o primeiro Plano Diretor da cidade de Nova Hartz (Lei Municipal nº.470/1996. O referido plano foi reformulado em 2009 (Lei Municipal nº.1450/2009).
Em 1999 – Implantação do Aterro Sanitário no município de Nova Hartz, com central de triagem para superar a lógica de descarte inapropriado até então vigente.
Em 2022 – Começa a funcionar a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Luiz Trezzi, procedendo-se novamente a uma homenagem perante um dos pioneiros professores da então localidade de Picada Hartz.
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ArquivosHISTÓRIA DO TERRITÓRIO MUNICIPAL DE NOVA HARTZ.pdf

